E ele estava pronto.
- Atire
Engatilhou a arma e respirou fundo.
- Estou pronto.
- Atire.
Ouvia-se apenas o vento e os galhos das árvores, era tarde e todos dormiam ansiosos, sabiam que havia chegado a hora e não suportaram a insônia.
- Diga algo!
- Atire!
O silêncio se prolongava ao som dos ratos que passavam no porão, prontos para o ataque.
- Esse silêncio me sufoca.
- Atire! Atire Logo!
Este homem apressado não sabia como controlar suas palavras. O tiro o derrubou no chão.
- Estou pronto. Diga Algo. Não tenho medo de usar a segunda bala.
O outro mantinha presa toda sua fúria. Contida aos gritos em uma caixa à prova de sons, alojada em seu peito.
- Eu só peço... Atire.
As lágrimas que percorriam o belo rosto de Ana não faziam nenhum efeito sobre a xai alojada no peito de Daniel.
- Não sem antes ouvir de você.
O sangue que saía do ferimento de bala percorria o quarto, sujando as almofadas ao chão, poderíamos ouvir um leve rebuliço a 40 metros dali, em um minuto o local estaria o centro das atenções alheias.
- Estão chegando, atire logo.
A súplica pela morte fazia Daniel inquietar-se, não podia conter mais seu peito.
- Fala! Sua vadia! Tudo o que aconteceu aqui! Fala! Tudo o que você fez! Seu choro não me faz mais me sentir mal! Você é uma vadia!... Chega.
A porta se abriu rapidamente e ela acordou assustada.
- O que foi?
- Desculpe o incômodo senhorita, mas um rapaz insiste em falar-lhe.
- São quatro da manhã.
- Ele diz ser urgente.
- Peça que suba. E obrigada.
- Farei-o.
Rapidamente ela levantou-se despida e vestiu seu roupão, logo ouvia-se a rígida e desesperada batida à porta que sozinha entrabriu-se.
- Precisamos conversar.
- O que tem a me dizer?
A espantosa conversa deixou Ana sem fôlego, a incompreensível notícia fez dela visivelmente perplexa.
- Onde teremos que ir?
E saíram ao vento, um silencioso nervosismo. O frio abafava os vidros do carro e arrepiavam Eduardo, que tentava manter-se sereno para que Ana não ficasse mais assustada.
Percorreram a Rodovia 21 por oitenta e nove minutos, até chegarem à Livra, onde vivia a família da moça. O abalo de Ana acontecera devido o assassinato de um casal de senhores, fazendeiros, que viviam há 68 anos em Livra, há 50 deles casados e com sete frutos desta união que haviam deixado ambos sós há 5 anos, Pedro e Maria passaram seus últimos dias deitados em cama própria, sem mesmo poder ir ao banheiro, ameaçados por um machado e um homem.
João, Henrique, Rafael, Diego, Rubens, Eduardo e Ana não tinham ideia do que estava acontecendo, pois havia tempo que não se comunicavam com os pais.
Chegando à casa onde viveram toda a infância e juventude encontraram apenas uma carta da polícia local presa à porta, após lerem, Ana e Eduardo ficaram ainda mais perplexos e calados.
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